sexta-feira, 14 de junho de 2013

Moacyr Scliar escreveu romances,contos,novelas,ensaios,crônicas, tendo se dedicado ao público infantojuvenil. A crônica abaixo é bem-humorada e é uma das minhas preferidas.

Os adolescentes e a solidão

   Há coisa pior que a solidão na adolescência? Parece que não, a julgar por uma pesquisa feita pela professora Oraides Regina Alves (Porto Alegre). A professora Oraides,como outros professores e professoras deste Estado, desenvolve, em condições nem sempre fáceis, um trabalho criativo e ao mesmo tempo revelador. Baseando-se numa reportagem da revista Nova Escola, ela perguntou aos alunos o que era, para eles, solidão.
   As respostas são interessantes porque falam muito sobre os jovens contemporâneos do Mamonas Assassinas. "Solidão é vir à aula na sexta-feira", diz Rodrigo, para quem , parece, todos os fins de semana são prolongados. "Sentir-se sozinho num túnel sem aquela luzinha no final, diz Giovani, a melhor descrição de estado depressivo que já vi. Vitor Hugo dá à sua resposta uma dimensão social: para ele, solidão "é ver que a fome e a miséria estão tomando conta do nosso país". Celiana, para quem solidão é "escrever poemas de amor e não ter a quem dar", vinga-se de destino: depois de brigar com o namorado, a melhor coisa é "caminhar de salto alto para incomodar os vizinhos do andar de baixo". Eu não gostaria de morar nesse edifício.
  O futebol também entra. Para Vitor Hugo, solidão é ser colorado, enquanto o Ederson, que, evidentemente, torce para o mesmo time,diz que se sente solitário quando tem de assistir a uma decisão do Grêmio sozinho. Ainda dentro  do item jogos e esportes, o Roger diz que solidão é estar com o videogame queimado ( e pelo tempo que funcionam, os videogames devem queimar muito). A propósito, o Everton tem uma velada queixa contra a Companhia de Energia Elétrica: ele sente solitário quando "está sozinho e falta luz".
   Há depoimentos comoventes. Solidão, diz a Tatiane, é "deitar na cama e beijar o travesseiro", ou, no plano familiar, "sentar a mesa e ver um único prato". Solidão, diz a Patrícia, é "saber que mais dia, menos dia, meus pais vão se separar". Solidão, diz Ederson, é "estar doente e ninguém vir lhe visitar";"ter um pai que não liga a mínima para você", diz Mariana. "Acordar e não ter quem dizer bom-dia", acrescenta Odete.
Solidão é triste em qualquer idade. Mas na adolescência parece ser pior. O mundo será melhor quando os adolescentes não mais se sentirem sós.
( SCLIAR,Moacyr. Minha ,mãe não dorme enquanto eu não chegar (e outras crônicas). Porto Alegre:L&PM,2002.)

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